segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os "Dez Mandamentos" do Voto Ético

O CRISTÃO E A POLÍTICA

Decálogo Evangélico do Voto Ético
Este texto foi preparado pela Associação Evangélica Brasileira (AEVB), visando contribuir para uma maior conscientização no meio cristão, no sentido de que o voto evangélico não seja manipulado, como tantas vezes têm acontecido ...

Introdução

Este texto foi preparado pela Associação Evangélica Brasileira (AEVB), visando contribuir para uma maior conscientização no meio cristão, no sentido de que o voto evangélico não seja manipulado, como tantas vezes têm acontecido.

Estamos divulgando este texto porque julgamos oportuno, num momento eleitoral como o que vivemos em todos os Municípios do País, que a Igreja se porte nessa questão com o máximo de ética e decoro. Como poderemos pedir aos nossos membros, ética e honestidade, se nós mesmos nos envolvermos com apadrinhamentos políticos e venda de votos em troca de favores? Como em tudo o mais, precisamos ser exemplo nessa questão.

Em resumo, o desejo tanto dos autores do texto a seguir, como da liderança desta Comunidade, é ver os pastores brasileiros ensinando o povo a pensar e a decidir por si próprios na questão política, levando em conta propostas sérias que apontem para o bem comum. Queremos colaborar para que terminem tanto o "voto de cabresto", os "currais eleitorais", como a velha idéia de que a Igreja deve eleger pessoas pensando nos seus próprios interesses.

Os "Dez Mandamentos" do Voto Ético

I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;

II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade numa outra direção;

III. Os pastores e lideres têm a obrigação de orientar aos fieis sobre como votar com Ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;

IV. Os lideres evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multipartidários, nos quais os vários representantes de correntes políticas possam ser ouvidos sem preconceitos;

V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil deve levar os pastores a não tentar conduzir processos político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles dividam a comunidade em diversos partidos;

VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidos com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo ou de uma denominação evangélica. É obvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um "despachante" de igrejas.

VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele conseguira alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, imóveis, linhas de credito bancário ou outros "trocos", ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais "acertos" impliquem a prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a "recompensa" seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os "reinos deste mundo" por quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;

VIII. Os eleitores evangélicos devem votar, para Presidente da República sobretudo, baseados em programas de governo, e não apenas em função de "boatos" do tipo:
"O candidato tal é ateu"; ou: "O fulano vai fechar as igrejas"; ou: "O sicrano não vai dar nada para os evangélicos"; ou ainda: "O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos". É bom saber que a Constituição do País não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Alem disso, é valido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos;

IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: "o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto", é de bom alvitre que se vote nele desde que ele tenha as qualificações para o cargo.

X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.


Como deve se portar a Igreja do Senhor nestes dias?

INTRODUÇÃO

Nenhuma congregação pode, em nossos dias, ignorar a importância da questão política. Em anos eleitorais, e especialmente quando um pleito se aproxima, como é justamente o período em que estamos, esse assunto passa a estar presente em quase todas as conversas.

Parte da dificuldade que temos com essa matéria nasce do fato de, ao longo de décadas, os cristãos terem enfrentado a questão política com base numa visão radicalmente dicotomista: para nós, importava tão somente o que dizia respeito ao "espírito". Envolvimento político cheirava demais a "mundo". Por outro lado, mesmo então não podíamos ignorar a importância do assunto, daí nossa opção, coerente com a dicotomia esposada: votarmos sem critérios ou, pior, com critérios indignos do Reino.

O Espírito Santo tem curado sua igreja em nossa pátria. Entre as muitas enfermidades que têm sido tratadas, está essa maldita dicotomia entre o que é "sagrado" e o que é "secular". Nossos olhos foram abertos para uma visão integral da nossa fé. Ganhamos revelação de que não somente o celeste porvir nos diz respeito, mas também o agora; de que o alvo do evangelho pregado por Jesus não é apenas a alma do homem, mas o homem que, constitutivamente, é espírito, alma e corpo; de que o Senhor Jesus não está interessado em permanecer confinado dentro dos bonitos edifícios que construímos para ele e alcunhamos de templos, mas ele deseja envolver-nos num projeto amplo de redenção da cidade.

O RISCO

Elencamos algumas ênfases apenas, dentre as muitas que o Senhor tem restaurado ao seu povo nestes dias. No entanto, é possível termos a mente cheia desses conceitos e, mesmo assim, continuarmos errando na prática. Muitas vezes não discernimos a profundidade de algumas contradições que nos marcam. É possível interceder, quebrando o poder demoníaco sobre a cidade e, em seguida, votar num projeto inspirado por esse mesmo poderio satânico. É possível clamar pelo fim da corrupção no país e, quase sem perceber, transigir o voto numa prática essencialmente corrupta; afinal, se eu troco meu voto, ou o voto de minha congregação, por favores, estou ou não me corrompendo?

São ocasiões em que, tomando emprestadas as palavras do Senhor Jesus, parece que nossa mão esquerda não sabe o que a direita faz; é como se fôssemos incapacitados para avaliar o alcance e a totalidade das implicações de uma decisão que tomamos.

Não quero efetuar nenhum julgamento, aqui. Não nos compete julgar. Mas, se há necessidade de formarmos uma visão política a fim de que nosso próprio povo não esteja desorientado (e, eventualmente, acabe sendo usado); e se, mesmo tendo idéias corretas, aparentemente temos tal tendência à esquizofrenia em nossas ações, pergunto: quais critérios efetivos, biblicamente embasados, podem nos nortear nessa questão? Longe de esgotar o assunto, quero repartir alguns discernimentos pessoais:

CRITÉRIO 1: PROJETOS E NÃO PESSOAS

Isto não é uma contradição com nossas convicções quanto à precedência das pessoas (e relacionamentos pessoais) sobre coisas ou idéias. Estamos falando de outro assunto. Nossa cultura tem uma grande tendência ao personalismo, ao patriarcalismo, ao coronelismo; tudo isso nos leva a elegermos indivíduos, por n razões, sem nos preocuparmos muito com seus projetos.

Por outro lado, projeto é uma palavra perigosa. De que estamos falando? Não apenas de obras, de quaisquer tipos, mas também delas. Por projeto entendemos a estrutura de convicções, planos e metas que nortearão a vida de um homem público, a qualquer nível.

Pergunte ao candidato a vereador que mora no seu bairro: por que você quer ser eleito? Não se contente com a primeira resposta, porque será sempre aquele discurso: "para servir ao povo, melhorar a vida dos cidadãos etc., etc." Como discernir, por detrás de tanto discurso redundante, se um candidato tem ou não projeto?

Você conhece seu passado? Ele tem sido um homem de convicções claras, fundadas ao longo de uma vida? Essas convicções estão traduzidas em termos de vida familiar, trabalho, respeito adquirido? A vida desse homem combina com seu discurso?

Lembro-me que, durante a campanha de um determinado candidato, posicionei-me definitivamente contra ele não apenas por questões de idéias, mas por um detalhe altamente pessoal: uma matéria jornalística relatava sua predileção por charutos, e mencionava que ele evitava fumar em público, a fim de não se incompatibilizar com os inimigos do fumo. Ao nível externo, uma mera regra de marketing pessoal. Mas isso acendeu um "sinal de alerta" dentro de mim: não se tratava de uma pessoa confiável. Não havia sinceridade nele.

Estou enfatizando isso porque todo projeto começa na pessoa, na sua vida, na sua integridade. São fatores inalienáveis. O caráter legitima o projeto e também serve de salvaguarda para o mesmo; afinal, todo projeto se constitui em promessas, e para aceitarmos promessas temos que confiar.

No entanto, podemos votar em pessoas que possuem caráter, mas não possuem projetos. Sabemos que podemos confiar nelas, mas, ao eleitas, tais pessoas simplesmente não saberão o que fazer. Têm a vida necessária para embasar seus projetos, mas são pobres em idéias; não conseguem estruturar o raciocínio para enfrentar as questões necessárias.

Então esse elemento altamente pessoal, que definimos como caráter, deve estar aliado a uma visão clara da situação, um conhecimento definido das possibilidades e responsabilidades de seu cargo e uma série de metas definidas, "o que fazer quando chegar lá".

Na vida política, crer que uma pessoa equipada com tudo isso, mas sozinha, pode alguma coisa, é mera ilusão. Todos esses atributos pessoais precisam estar enquadrados num organismo político que seja coerente com eles. É aqui que assistimos às maiores disparidades. O candidato esposa tais e tais visões, mas sabemos que ele pertence a um partido que contraria tudo aquilo. Ora, no momento das decisões sem dúvida prevalecerão as convicções da maioria.

Devemos nos perguntar, então:

_ Tal candidato tem caráter?
_ Além de caráter, tem um projeto definido?
_ Esse projeto é coerente com a agremiação política que ele integra?

Qualquer não neste questionário me parece inviabilizar o candidato.

CRITÉRIO 2: FIM DA MENTALIDADE DE "GUETO"

Por tempo demais nosso raciocínio eleitoral foi: "estamos colocando lá os nossos representantes". Isto significava, na maioria das vezes, aqueles que vão brigar as nossas brigas, vão conseguir ônibus de graça, vão facilitar a utilização de estádios, vão obter-nos benesses...

Não posso negar a legitimidade de alguns desses itens. Mas, ainda que correndo o risco de ser considerado ingênuo, quero sustentar que esta, por si só, é uma base frágil demais para apoiarmos um candidato. Trata-se de uma mentalidade de gueto, na qual o que interessa é o nosso bem-estar, o suprimento das nossas necessidades.

Há algo aqui que me amedronta. Por três séculos, a igreja primitiva suportou uma forte perseguição. Quando a maré virou, e Constantino abriu os braços para a igreja, uma espécie de reação contrária se manifestou entre os cristãos. "Éramos os perseguidos, agora estamos 'por cima'". Os irmãos se deslumbraram com o poder, a proteção, a segurança oferecida pelo braço romano. Esqueceram-se de que "maldito é o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço...". Talvez tenhamos dificuldade em compreender, mas parece-me que, quando o poder do homem se manifesta, a unção de Deus é obscurecida. Isso entristece o Espírito Santo e afasta a glória de Deus.

Não devemos alimentar quimeras políticas. Vejo alguns irmãos dizendo: "Teremos um presidente evangélico", e isso soa como a solução de todos os problemas. Minha primeira reação é de ceticismo. Revejo instantaneamente a história da igreja, em busca de um modelo. Só encontro dois. Constantino, que precipitou a igreja numa terrível apostasia; e Abraham Kuyper, da Holanda. Kuyper foi primeiro-ministro no princípio do século. Era um calvinista, com forte visão da igreja como fermento da sociedade. Mas a igreja já estava então num processo de acomodação cultural, havia se tornado parte da cultura, ao invés de ser contracultura. Já nos aspectos positivos de seu governo, Kuyper me parece reforçar, com seu exemplo, uma convicção íntima: não era tanto um presidente cristão, mas um cristão presidente.

As diferenças? O presidente cristão faz merchandising religioso; o cristão presidente é cristão. A experiência com Deus é o pano-de-fundo que, no final das contas, vai determinar as atitudes desse homem. Ele não vai entrar em negócios escusos, porque ele ama a Deus. Seu projeto toca o país, e não somente o gueto. É presidente de todos os brasileiros, e não apenas dos cristãos. E sabe agir nessa difícil posição.

Já que entramos nessa área, quem nos autorizou a supor que um cristão na presidência, ou na prefeitura, ou seja lá onde for, será a resposta de Deus para nosso país? A resposta de Deus para o Brasil está na igreja que, tocada pela unção do Espírito Santo, se levantará em poder para fazer as obras de Jesus. A resposta de Deus para o Brasil está na essência do avivamento: Deus mesmo descendo até nós (Is 64:1). Colocar as esperanças em qualquer coisa além disso (pessoas, ideologias, projetos) é praticar idolatria.

"Adverte-lhes que estejam sujeitos aos [governadores] e autoridades, que sejam obedientes, e estejam preparados para toda boa obra," (Tito 3.1)

"Toda alma esteja sujeita às [autoridades] superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus."(Romanos 13.1)

Extraído do Site da Comunidade Carisma de Osasco com algumas adaptações.

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