domingo, 25 de abril de 2010

Carta do leitor: 50 mil habitantes sem atendimento de emergência hospitalar em Santa Catarina

Testemunha narra tragédia da saúde dos itapemenses, caros leitores essa semana recebemos uma carta que conta uma história triste e lamentável de uma família que perdeu um ente querido que por má sorte ficou doente coincidentemente com o fechamento do hospital de Itapema.



Carta do leitor:


ITAPEMA: 25/04/2010 - Nasci em Itapema, moro em dos bairros da cidade e trabalho em Meia Praia, e está semana convivi com um drama de uma família de amigos e que depois de ler o jornal Folha Evangélica, “carta do leitor” resolvi escrever para o jornal e contar uma história de amor e que infelizmente acabou em uma tragédia. Logo pela manhã recebi um telefonema de minha amiga de diz que estava muito preocupada com as dores que seu marido estava sentido. Então sugeri a ela levá-lo para o hospital ou chamar a ambulância do SAMU. Neste ínterim Ela disse se Eu podia acompanhá-la até a sede do hospital de Itapema, “nessas horas dizer não seria o cúmulo” vamos ao sacrifício. ai que iniciou uma história de dor, perda e muita tristeza, chegamos ao hospital estava fechado. Não acreditamos que o hospital havia sido fechado, ficamos pasmem, sem saber o que fazer.

Minha amiga entrou em desespero e agora o que vamos fazer? – vamos ao Posto de Saúde, que eles devem saber o que está acontecendo. Chegamos com o marido (paciente) dela travado de dor no braço, na verdade já imaginava que Ele estaria enfartando, mas fazer o que, só quem pode dar um diagnóstico é o médico. O marido da minha amiga é daqueles homens que só vai ao médico carregado, na minha presença Ele não reclamava da dor, apenas resmungava em voz baixa, “se me acontecer alguma coisa cuide bem das crianças..., parece que Ele estava sabendo que algo se anunciava. Ai a plantonista do Posto Itapema, chegou e levou Ele para uma entre – sala, mediu a pressão e disse: vocês terão que esperar mais um pouco para que o médico de plantão chegue e avalie o quadro do paciente”.
Neste meio tempo chega um dos filhos, abraça-o e pergunta o que tem o paizinho, ele disse muita dor, então o filho da vitima diz vamos para o plantão do hospital de Balneário, parece que num estalo de dedo as coisas ocorreram, chamamos um táxi e fomos em direção a Balneário, quando chegamos à fila era enorme, fomos em direção a atendente e explicamos o quadro em que se encontrava o marido da amiga, então a enfermeira plantonista nos indagou você trouxeram a guia de encaminhamento? – ficamos atônitas! – não trouxemos e agora?. Ai a plantonista percebeu que o quadro era grave, chamou um dos enfermeiros e começou fazer umas anotações do paciente, enquanto isso já se passava duas horas e meia do principio de infarto. Quando olho para o lado, nos olhos da minha amiga corria lagrimas sem parar, nossa que clima difícil. Ela saiu e me chamou do lado e me confidenciou, “acho que estou perdendo meu marido, amanhã e bem provável que serei mais uma viúva da omissão”. Então, retruquei se anime Ele está respirando, está firme! Ela insiste conheço Ele olha está pálido!!... ali estávamos nós esperando no vazio, sinceramente, nunca me imaginei testemunhar algo dessa natureza, infelizmente o marido da minha melhor amiga veio a óbito no corredor de um hospital. Lugar onde já mais alguém poderia desfalecer por negligencia no atendimento, infelizmente, após três horas, entre o péssimo atendimento que os cidadãos de Itapema tem que suportar “sem hospital de emergência”, ainda temos que passar pela humilhação de ser atendido em outra cidade, onde a prioridade primeira são os moradores residente depois os de fora como foi o nosso caso.
Mas o pior estava por vir, o corpo ficou no hospital para resolver as questões do IML, e posterior liberação. Sai e voltei para Itapema, cheguei na casa dela, estavam seus filhos, que queriam saber como estava o pai, sinceramente não tive coragem de dar a notícia, pensei que só uma pessoa poderia passar aquela informação, então respondi o pai de vocês está no hospital. E a mãe onde está? - Ela ficou para cuidar Dele. Passado três horas do óbito, chegou um dos irmãos do falecido e perguntou seu pai ainda não chegou? – o filho mais velho sem saber da verdade disse não. O senhor não sabe tio! Ele está internado? – responde o Tio menos mau então. Acho que recebi uma informação equivocada, qual hospital que ele está em Balneário. Após essas indagações entra pela porta do fundo a Avó das crianças com lagrimas e em planto, onde está meu filho, quero ver ele, não posso acreditar que ele tenha morrido.
Ai caiu à ficha de todos, naquele momento, não havia como negar mais informação, mais de um membro da família sabia da notícia de que o marido da minha amiga havia falecido. Então um silêncio tomou conta do ambiente, por algo de 30 segundos, um dos filhos fala, se meu pai faleceu, logo imagino que estamos sozinhos no mundo, se ele que era forte não resistiu e chora... Mais um silêncio toma conta do ambiente, nisso entra a minha amiga e abraça a todos e ficam ali por um longo tempo, sem voz e sem palavras alguma. Depois do silêncio, amparado pelos abraços, uma voz rouca sai do fundo; Mãe, Mãe é verdade? Sim, é verdade.

É lamentável e triste ver a esposa e filhos perderem um pai em circunstância que por mais leigo que você seja, sabe que está morte poderia ter sido evitada. Mas o que mais me chamou a atenção em tudo isso, é a negligência que Itapema ostenta há muitos anos, a omissão com relação ao atendimento hospitalar de emergência é um caso de polícia. Todos nós que moramos aqui, sabemos que por mais que se tenha um plano bom de saúde, você precisa do atendimento de emergência, seja qual for à classe social está sujeita a ser vitima da omissão que mata e dilacera as pessoas.
Sem ressentimentos, minha amiga pediu que não citassem o nome das pessoas e nem da família dela no jornal, que se era para ser o dia Dele tudo bem, mas que poderia ter sido evitado podia.
Um dos filhos fez uma narrativa durante o velório, “com lagrima nos olhos dissertou, “nosso pai foi maravilhoso, creio que Deus está com Ele e que se ouve alguma omissão por parte das pessoas que o atenderam Deus sabe o que fazer, a Justiça está nas mãos Dele, nós temos que nos conformar, mas sou obrigada a dizer que nossa cidade não está em condições de receber turista e nem muito menos de ser chamada de cidade turística, porque não temos um hospital a altura dos turistas que visitam a nossa praia, infelizmente a nossa gente está largada e sem socorro, isso é triste”.
Diante deste comentário, não há mais o que se dizer e nem precisamos procurar um culpado, porque todos os moradores de Itapema são os verdadeiros culpados da tragédia anunciada do hospital fechado. Todos nós somos culpados, por não saber votar nas pessoas certas e mais graves não sabemos cobrar, se temos um prefeito ruim é porque os vereadores ainda são piores, lamento... Isso serve para que todos nós possamos refletir na hora do voto, ele deve ser feito com responsabilidade e não porque o candidato é amigo, ou porque ele lhe fez um favor, temos que ver a capacidade do candidato o seu passado para depois dar o cheque em branco, o voto.
Se publicar, por favor, guarde a carta, não revele o nosso nome, se alguém duvidar da fonte ai passe o e-mail que vamos dar o endereço da urna em que o marido da minha amiga está no cemitério municipal de Itapema, vitima da negligência e da omissão. Se tiver outro nome a dar a essa tragédia se não for omissão, que nossas autoridades escolham uma melhor frase?

NR: Sem comentários.
José Santana
Carta para publicação; josefolha@hotmail.com
Gentileza resumir o texto para evitar o excesso de espaço.

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