terça-feira, 17 de maio de 2011

Serra: “Governo Lula deixou herança maldita”

Ramiro Furquim/Sul21
Felipe Prestes


Candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, José Serra avaliou o governo de sua adversária, Dilma Rousseff, como “hesitante”. Segundo o tucano, o governo demora a reagir a uma “herança maldita” deixada pelo antecessor, o presidente Lula. Esta herança, diz Serra, é o crescimento da inflação, o câmbio que pode gerar a desindustrialização do país e o atraso “monumental” em obras de infraestrutura. As afirmações foram feitas em entrevista coletiva em Porto Alegre, onde José Serra proferiu palestra sobre reforma política na reunião-almoço “Tá na Mesa”, da Federasul. Serra defendeu o voto distrital, e manifestou contrariedade com o financiamento público de campanha.
Instado pelos repórteres, José Serra comentou uma possível debacle da oposição em nível nacional. O ex-governador de São Paulo disse que a oposição está “engatinhando” no desempenho das principais atribuições que deve ter quem está fora do governo. “A oposição tem que fazer crítica, fiscalização, cobrança e sugestões. Até os eleitores do PT esperam que a oposição cumpra este papel, que é necessário para o país. Acho que a oposição ainda está engatinhando nisto”.
Serra considerou ser difícil que ele cumpra o papel de líder da oposição por estar sem cargo, mas diz que fará cobranças ao governo. “Não tenho tribuna, mas tenho a palavra”. O tucano afirmou, por exemplo, que fazer o Prouni da escola técnica, como o governo anunciou, era plataforma da campanha dele, da qual o governo se apropria. E que agora cobrará do Governo Dilma que este programa saia do papel. “Eu acho bom, mas tem que sair do discurso”. Ele também disse que sempre foi a favor das concessões para os aeroportos. “Vão fazer agora, com muito atraso”.
O tucano classificou como “surrealismo” a hipótese de que saia do PSDB, rumo ao PSD de seu aliado Gilberto Kassab. Disse que isto não passa de fofoca. Ele também descartou a fusão do PSDB com o que restou do DEM. “Você não é eleito para fazer fusão e é um tema muito complexo. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, seria muito difícil unir os dois partidos”.


Voto distrital e financiamento privado
Também na reforma política, as ideias de José Serra são totalmente opostas às do PT. Enquanto a bancada petista luta para emplacar o voto em lista e o financiamento público de campanha, o tucano rechaça estas duas alterações. O ex-governador elencou três problemas centrais que o sistema eleitoral brasileiro tem hoje: eleições caras, partidos fracos e distância entre eleitor e eleito.
Mesmo falando do enfraquecimento dos partidos, Serra descartou o voto em lista, que poderia forçar os partidos a fortalecerem seus programas. Para ele, o ponto central de mudanças deve ser aproximar o eleitor de quem ele elegeu, e o voto em lista afastaria ainda mais o eleitor do eleito. José Serra diz que foi defensor do Parlamentarismo, quando houve o plebiscito, em 1993. “Se houvesse o Parlamentarismo, eu defenderia o voto em lista”, disse.
José Serra afirma que o voto distrital pode começar pelos municípios em 2012, para a eleição de vereadores dos municípios com mais de 200 mil eleitores, projeto que já tramita no Congresso. O tucano diz que com distritos de cerca de 30 mil eleitores, o eleitor estará muito mais próximo de seu vereador. Por outro lado, o tucano afirmou ser muito difícil que a reforma que está sendo discutida no Congresso consiga ser aprovada para já estar em vigor em 2014.
O ex-governador também disse ser contrário ao financiamento público de campanha. Afirmou que teme a forma como este dinheiro pode ser distribuído e a formação de uma “indústria de candidatos”. Disse ainda que o financiamento público não impedirá o financiamento privado de campanha. “Não vai impedir o financiamento paralelo que já ocorre hoje”.

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